terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Visitar, neste momento, a cela onde Mandela ficou preso de 1964 a 1990 é emocionante e inspirador. Emocionante especialmente pelo contexto em que o faço: a morte de Mandela causa uma mobilização nacional que talvez eu nunca mais veja na vida. Mandela é, para todos os efeitos, unanimidade por aqui. Um companheiro de prisão, no barco para o museu de Robbben Island (a desativada prisão onde esteve preso Mandela) fala dele com fervor, descrevendo como era um brilhante líder e como consolidou a igualdade e a liberdade na África do Sul. Multidões prestam homenagens em todos os cantos do país e a transmissão televisiva é exaustiva desde sexta-feira até o momento. Também foi inspiradora a visita a Robben Island, pois conhecendo as condições em que lutavam Mandela, Jama (o ex-preso político que guiou a visita à odiosa prisão) e seus companheiros, percebe-se a força que têm os ideais de liberdade e igualdade. Aquela geração conseguiu grandes avanços, mas ainda há muito por realizar por aqui: apesar de ter sido derrubado o regime do apartheid, a segregação econômica é visível a olhos nus. As massas trabalhadoras que estão nos pontos de ônibus, nos postos de trabalhos subalternos e nas moradias incrivelmente precárias das periferias das grandes cidades têm uma cor. Já as "massas" trabalhadoras, proprietárias e rentistas, engravatados ou não, que passeiam nos restaurantes sofisticados e em seus carrões têm uma cor também. Os brancos e negros que são excessões à regra apenas confirmam esta. No caminho para superar esta dura segregação econômica, na África do Sul, no Brasil, no mundo, nada melhor do que o exemplo de luta de Mandela. Que as emoções causadas por sua morte e por sua vida espalhem esta inspiração para a luta por liberdade, igualdade e justiça social.